As certificações independentes mais usadas na moda

Provavelmente muitos já terão visto os seus logótipos junto às etiquetas de roupa, embora nem sempre seja fácil depreender o significado dos vários símbolos. Cada organização certificadora revela um papel distinto, que explicamos, de forma breve, neste artigo.
Provavelmente muitos já terão visto os seus logótipos junto às etiquetas de roupa, embora nem sempre seja fácil depreender o significado dos vários símbolos. Cada organização certificadora revela um papel distinto, que explicamos, de forma breve, neste artigo.

Ideias a retirar:

A Global Organic Textile Standard certifica os produtos com materiais de origem orgânica, centrando-se na redução do impacto ambiental e num tratamento digno dos trabalhadores.

A Better Cotton Initiative regula as cadeias de produção associadas ao algodão, gerindo critérios ambientais e sociais.

A Global Recycled Standard é utilizada em produtos que contêm pelo menos 50% de materiais reciclados.

A B Corp é uma certificação facultada às empresas cujos modelos de negócio têm um impacto positivo para a sociedade, para os seus trabalhadores e consumidores.

A Fairtrade é uma das organizações que mais tem trabalhado no campo social das cadeias de produção, estando na vanguarda da promoção de salários dignos.

 

Após termos abordado os vários tipos de certificações, bem como as vantagens (e os problemas) que trazem para a indústria têxtil e de vestuário, vale a pena conhecer alguns dos nomes que estão por detrás dos rótulos de sustentabilidade mais usados na moda.

Esta lista não é extensiva, até porque todos os dias descobrimos mais organizações que se dedicam à verificação de declarações ambientais e sociais em inúmeros setores, mas compreende algumas das certificações mais usadas nesta indústria. Vamos conhecer os seus nomes e papel?

Global Organic Textile Standard (GOTS)

Com o objetivo de verificar a autenticidade da composição orgânica de uma peça de roupa, a GOTS desenvolveu um conjunto de critérios que envolvem toda a cadeia de produção, analisando parâmetros ambientais e sociais.

Para obter esta certificação, um produto de moda, deve, em primeiro lugar, conter pelo menos 70% de fibras orgânicas. Se esse for o valor adotado, a peça estará identificada com a seguinte frase: “feito com materiais orgânicos”. Caso a presença de materiais orgânicos seja igual ou superior a 95%, apenas aí a peça poderá estar identificada como “orgânica”.

Ao nível ambiental, a Global Organic Textile Standard regula também a utilização de químicos em outras fases da produção, como o tingimento, para além de restringir o tipo de fibras que pode ser combinado no produto. O tratamento dos trabalhadores, incluindo as condições de segurança, remuneração e casos de abuso ou discriminação, são também analisados aquando da presença de uma etiqueta GOTS. Os critérios podem ser consultados na totalidade no seu website.

Better Cotton Initiative (BCI)

Apenas produtos com algodão podem ser certificados pela Better Cotton Initiative, já que esta organização se dedica aos processos ambientais e sociais que envolvem este material. Os seus critérios são baseados em sete princípios:

  1. Proteção das colheitas, nomeadamente com a redução do uso de pesticidas.
  2. Gestão dos recursos hídricos, tendo em conta que o cultivo de algodão é responsável por um grande consumo de água.
  3. Qualidade do solo, que ajuda a eliminar o uso de componentes químicos e funciona como uma ferramenta contra as alterações climáticas, ao capturar dióxido de carbono.
  4. Biodiversidade, suportada por práticas de uso responsável da terra.
  5. Qualidade da fibra, enaltecida pelos métodos de colheita, armazenamento e transporte do algodão.
  6. Trabalho digno, com a promoção de melhores condições de trabalho e salários justos.
  7. Sistema de gestão eficaz, para garantir que todos os outros princípios são aplicados.

 

É possível ler mais sobre os critérios do BCI nesta página.

Global Recycled Standard (GRS)

A Global Recycled Standard (GRS), tal como a Recycled Claim Standard (RCS), são organizações certificadoras geridas pela Textile Exchange, que se centram na utilização de materiais reciclados em produtos de moda.

Por ser mais exigente nos seus critérios, destacamos o papel da GRS. Esta etiqueta pode ser usada entre produtores, sempre que se verifique uma presença mínima de 20% de materiais reciclados. Porém, quando é usada para promover uma peça de roupa junto do consumidor, tal significa que esta tem de conter, no mínimo, 50% de materiais reciclados.

Os produtos certificados pela Global Recycled Standard estão ainda isentos de quaisquer componentes químicos tóxicos, sendo aplicados métodos de transformação e produção com o menor impacto ambiental possível. Existem também critérios ao nível social, que vão desde a limitação de horas de trabalho à garantia de saúde e segurança nos locais de produção. Outras recomendações ambientais e sociais encontram-se listadas neste documento.

B Corporation

O movimento B Corp é diferente das outras certificações da moda, no sentido em que não procura apenas limitar os impactos ambientais e sociais da indústria, mas sim encorajar práticas que tragam soluções e resultados positivos.

As empresas B Corp são analisadas ao nível da performance, responsabilidade e transparência nos seus modelos de negócio, que podem ir desde as condições de trabalho aos materiais utilizados na cadeia de produção.

A sua principal métrica de examinação é a B Impact Assessment, uma ferramenta suportada por inteligência artificial que se baseia na relação da empresa com os cinco pilares definidos pela B Corporation: governo, trabalhadores, comunidade, ambiente e consumidores.

Fairtrade

Embora seja amplamente conhecida pelo seu trabalho no setor alimentar, também existem produtos de moda certificados pela Fairtrade. O seu compromisso assenta nos três pilares da sustentabilidade – economia, ambiente e sociedade – e o selo pode ser usado nas relações entre produtores, como também na comunicação junto de consumidores.

De acordo com os princípios do pilar económico, a organização compromete-se a apoiar os pequenos negócios, estabelecendo preços mínimos ou até facultando subsídios quando necessário. No campo ambiental, promove-se a utilização de fibras responsáveis, associadas a práticas de agricultura com um menor impacto para o Planeta. Encontram-se ainda proibidos diversos materiais que podem trazer riscos para a saúde do consumidor.

Acima de tudo, a Fairtrade apoia-se na promoção do pilar social, examinando as cadeias de produção para garantir condições de trabalho dignas e estimular a sindicalização dos trabalhadores. Para além disso, todas as empresas sob a alçada do Fairtrade Textile Standard são obrigadas a pagar salários dignos (uma tradução direta de living wages) num período de seis anos após a adesão.

 

Existem outras organizações certificadoras que merecem uma menção honrosa, como a Okeo-Tex, que tem trabalhado para eliminar a utilização de componentes químicos perigosos na produção de vestuário, ou até a Craddle to Craddle, cuja certificação vai ao encontro dos princípios de circularidade.

Ver um rótulo não basta. É preciso saber o que este significa e que critérios estão por detrás da análise que as entidades independentes fazem ao produto. Só assim é que as certificações terão valor para o consumidor.

Encontraste algum erro ou imprecisão? Ficaste com dúvidas? Envia um e-mail para info@ethica.pt.

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