Ideias a retirar:
Antes de sermos consumidores, somos cidadãos. Por isso, há que usar também as ferramentas de ativismo que não passam pelo consumo.
Votar é uma das ações mais importantes, já que pode originar alterações sistemáticas.
Criar e assinar petições, bem como protestar, são direitos que estão previstos na Constituição portuguesa, e que devem ser utilizados para mostrar o nosso desagrado face a quaisquer problemáticas.
É possível ser ativista sem sair de casa, questionando as marcas através das redes sociais ou do e-mail acerca das suas políticas de sustentabilidade.
À medida que o público se tornou cada vez mais alerta para os problemas ambientais e sociais que assolam a indústria da moda, surgiram soluções para oferecer aos consumidores um maior controlo sobre as suas compras. Uma das mais populares ficou vulgarmente conhecida como “votar com a carteira”, uma referência à capacidade de demonstrarmos o nosso descontentamento face às ações de uma marca, encaminhando os hábitos de consumo para outras que representem os nossos valores.
No entanto, existem alguns problemas associados a este tipo de ativismo. Em primeiro lugar, está a limitar o papel dos cidadãos à sua faceta de consumidores. No sistema político português, temos ao nosso dispor muitos mais meios de ação do que apenas votar com a carteira. E convencer-nos do contrário, parece, logo à partida, uma consequência social dos ideais capitalistas, em que apenas o consumo pode ser sinónimo de poder. Em segundo lugar, são vários os consumidores que não têm a capacidade financeira para adquirir produtos de marcas mais sustentáveis, já que muitas revelam preços mais elevados. Vivemos numa democracia, logo, a nossa classe social não deve, em nenhum momento, ser uma condição para nos podermos fazer ouvir.
Por estes motivos, é importante estarmos cientes das variadas formas como podemos ser um consumidor ativista sem gastar um tostão. Mais uma vez, antes de sermos consumidores, somos cidadãos, e a Constituição portuguesa atribui-nos um conjunto de direitos e deveres que suportam e legitimam variadas ferramentas para demonstrar desagrado relativamente a vários tópicos. Iremos destacar algumas dessas ações, centrando as problemáticas que envolvem a indústria da moda.
1) Votar
Porquê votar com a carteira quando podemos apenas votar? O direito ao voto é uma das armas mais poderosas de qualquer cidadão e é uma das poucas ferramentas capazes de potenciar alterações sistémicas. Este é ainda mais poderoso quando usado de forma informada, sendo, por isso, muito importante estar atento às comunicações dos agentes políticos que nos governam.
2) Criar e assinar petições
É tão fácil assinar uma petição que se torna difícil perceber o valor deste mecanismo de ação. Ainda assim, é importante fazê-lo. Ao nível internacional, destacam-se várias petições que têm conseguido originar mudanças no funcionamento da indústria da moda. Foi o caso recente da campanha #PayYourWorkers que, no Reino Unido, levou a que grandes marcas pagassem aos trabalhadores do Sudeste Asiático por encomendas que não chegaram às lojas em consequência da pandemia da Covid-19. Outras petições que ainda podem ser assinadas são, por exemplo, a iniciativa europeia Good Clothes, Fair Pay e a campanha contra o trabalho forçado na China.
3) Protestar
Antes de se ativarem quaisquer preconceitos, reforce-se que existem vários tipos de protesto e cada pessoa deve escolher aquela com que se sentir mais confortável. Seja invadir uma conferência de sustentabilidade de uma marca de moda, gritando pelos direitos dos trabalhadores, ou participar numa marcha silenciosa, todas as ações contam, e nenhuma deve ser tida como menos importante. Na era da Internet, até é possível protestar sem sair de casa – vejamos o próximo ponto.
4) Questionar as marcas
Uma das críticas mais comuns à ideia de “votar com a carteira” é que as marcas poderão não sentir os efeitos de ações individuais. No entanto, isso não se verifica quando questionamos as marcas diretamente acerca das suas práticas de sustentabilidade. Presencialmente numa loja, em casa através das redes sociais ou do e-mail… Tantas são as ferramentas de comunicação que hoje temos ao nosso dispor, e que podemos (e devemos) usar para nos fazermos ouvir. A Fashion Revolution disponibilizou um conjunto de templates para quem quer contactar as empresas de moda.
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